quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Remida - Parte 12


- Amiga, se você quiser, a gente fica em casa.
            - Não Dani, eu quero ir.
            - Só falar que ficou com dor de barriga, eu ligo pra minha mãe e fica tudo certo.
            - Não Dani. Cedo ou tarde vou ter que ir pra escola.
            - Mas Mari, você não tem obrigação de ir agora. Acho que nem eu quero ir.
            - Dani nós jogamos hoje, esqueceu?
Silêncio. Eu sei que a Dani só queria me proteger, evitar que eu encarasse aqueles olhos curiosos, as brincadeiras de mau gosto, o desprezo das meninas – por mais que a maioria delas já tenha mandado fotos nuas de propósito, mas nunca admitiriam isso. Mas eu precisava ir. Não por causa dos jogos, de jeito nenhum por causa do Lucas. Mas por minha causa. Depois da conversa com o Sr. Joaquim, fui tomada por uma coragem que não sei de onde veio. Dani apenas acatou meu pedido, pegou a mochila, deu uma ultima arrumada no batom e fomos à escola.

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Não notei nada de estranho nas primeiras aulas. Agradeci à Deus por tudo estar aparentemente normal, até chegar a hora do intervalo e a diretora resolver fazer uma “reunião” com os alunos antes de voltarmos para as salas. O papo sobre exposição na internet foi agradável (lê-se com ironia). Todos olhavam para mim! Alguns olhavam e desviavam em seguida, outros olhavam e cochichavam com os amigos. Alguns mais corajosos mostravam algo no celular. Eu só queria me esconder, mas não tinha escolha. Se eu levantasse e saísse dali, quando todos estivessem sentados, deixaria estampada que aquela reunião estava acontecendo por minha causa.

Dani segurou minha mão e colocou no colo dela. Mais uma vez me surpreendendo mostrando que pode ser tão “minha mãe” quanto eu posso ser dela.

Não vi o Lucas em nenhum momento na escola. Nas poucas vezes que vi seu grupo de amigos, não consegui olhar para eles tempo suficiente pra ver se ele estava ali no meio; os amigos paravam o que estavam fazendo e começavam a mexer comigo com assovios e risadinhas.

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Cheguei em casa, coloquei a pesada mochila em cima do sofá, procurei rapidamente por minha mãe e considerando o silêncio, concluí que ela não estava em casa. Fui diretamente para o banho e, por alguns minutos, deixei a água rolando no chuveiro e estava me encarando no espelho. Ainda era quinta-feira e eu tinha passado de desconhecida para nova namorada do Lucas e da noite para o dia me tornei “a menina da foto”.
Pensava todas estas coisas me olhando profundamente nos olhos, até começarem a se encher de lágrimas, até cada uma delas parecer que pesava cem quilos. Elas caíam com força, sem pedir licença, apenas saltando como se levassem toda essa confusão de sentimentos. Como?
Senti saudades, de repente, de uma semana atrás. Quando o máximo que me aproximava da menina que havia me tornado era ficar deitada na cama com a Dani imaginando maneiras improváveis do Lucas notar minha existência. Eu sabia que não poderia. Eu sabia que não deveria. Tudo em mim dizia pra eu fugir!
Entrei debaixo do chuveiro e deixei as lágrimas irem. Eu queria gritar, queria acabar com tudo. Era uma surra de sentimentos que eu não conseguia discernir. Sentei no chão, não liguei pra nada, havia coisas demais dentro de mim e eu precisava colocar para fora.
Ainda dentro deste caos, eu me sentia tão sozinha. Não só por estar literalmente sozinha em casa, mas porque parecia que eu era a única no mundo que estava passando por essa situação.
Levantei, acabei o banho, me sequei e vesti a roupa. Quando saí do banheiro, me joguei no sofá e decidi ligar o celular de novo. Fui passando mensagem após mensagens de garotos perguntando se eu cobrava caro, outros pedindo fotos exclusivas, até meninas me julgando e me chamando de todos os nomes possíveis. Três mensagens da Dani perguntando se eu tinha chegado bem e se eu queira que ela viesse para cá. Duas mensagens da minha mãe avisando que tinha comida pronta na geladeira. Cinco mensagens no grupo da família, sendo 3 vídeos de piadas sobre o Lula – pelo menos meus parentes não sabiam de nada. Uma mensagem de um número que não estava salvo, mas já tinha visto antes.
011 99999-9999
8:47 “Oi Marcela. Que Deus te encontre nessa manhã. Vocês saíram tão rápido de casa, não pude nem te lembrar sobre seu encontro de hoje, por isso resolvi mandar essa mensagem. Não se esqueça: Ele está ansioso pra te ouvir. Fique com Deus. Sr. Joaquim”
Fui atingida por um incômodo enorme no momento que li essa mensagem. Eu tinha esquecido completamente dessa promessa!
Eu não faria isso, é claro. Como eu simplesmente poderia fechar os olhos, fingir que Deus estava na minha casa, silenciosamente me ouvindo falar o quanto fui burra de transar com um garoto

Remida - Parte 11


(Narração por Marcela)
Sr Joaquim ouviu cada palavra que saiu da minha boca. No fim de tudo, quando acabei de falar, notei que não contei apenas sobre Lucas e a foto. Contei sobre meus pais, sobre a infância na igreja, sobre como minha avó lutava pra me ver de volta com Deus e, a única coisa que ele fez foi me abraçar. Acariciou minha cabeça como se eu fosse a filha, e nessa hora a Dani já estava ali conosco ouvindo também.
            - Você não é a pior pessoa do mundo por ter feito isso, Marcela. Você erra, é humana.
            - Mas eu desobedeci a Deus, Seu Joaquim. Por isso tudo isso aconteceu e eu não sei o que fazer.
            - Espera. Você pensa que todo essa confusão da foto aconteceu porque Deus está triste com você? – Respondi que sim com a cabeça, e ele continuou – É aí que você se engana. O Pai está triste sim com você, mas Ele não fez isso. Essas coisas só aconteceram porque alguém muito mal intencionado queria te ver humilhada. Alguém que não gosta da própria vida e precisa ver outras pessoas sofrendo pra conseguir se sentir bem. Quando você descobrir quem é essa pessoa, não sinta raiva dela; sinta pena.
            - Descobrir? – eu tinha certeza que foi o Lucas quem tirou a foto, mas Sr Joaquim parecia não ter tanta certeza assim – eu estou certa de que foi o Lucas pra se gabar.
            - Você ouviu isso dele? – Perguntou.
            - Não. Mas o amigo dele disse que ele contou tudo.
            - Ele pode ter contato, mas não tem certeza se ele fotografou. Até que se tenha provas, não tem como saber quem foi de verdade. Tenha paciência. Uma hora você vai descobrir quem foi. – Concordei com a cabeça. A linha de raciocínio dele parecia justa.

            - Obrigada, Sr Joaquim – sorri e ele concordou com a cabeça – Obrigada por me ouvir me aconselhar.
            - Não foi nada, minha filha. E ah, sobre Deus... – Ainda me sentia amargurada com esse assunto – fale com Ele.
            - Como eu poderia? Você sabe o que eu fiz... Ele não vai querer me ouvir.
            - Ele quer sim. Fale com Ele.
            - Mas não sei fazer isso – Insisti. Não orava há anos e acho que nunca aprendi a orar. Deus era um avô no céu e eu conversava com Ele como conversava com amiguinhos na escola.
            - Não precisa ter toda a reverência que você sempre ouve. Não precisa de palavras bonitas. Deus vê seu coração, Marcela, e Ele sabe que você se arrepende do que fez. Ele quer te dar alívio da culpa, não te condenar. – Isso não parecia real ou possível pra mim.
            - Como pode, Sr Joaquim? Eu fiz tudo o que Deus me diz pra não fazer, e Ele ainda se interesse em aliviar minha culpa? Não parece com toda a noção da divindade Dele que eu sempre ouvi.
            - Sempre ouviu errado! Deus é justo, mas se tratasse a gente da forma como merecemos, não estaria aqui pra contar história. Vai falar com Ele, vai chamar Jesus pra conversar. Ele vai te ajudar, eu tenho certeza. Ele me ajuda todo dia.
Daniele ficou imóvel ouvindo tudo aquilo. Em momento nenhum o pai conseguiu falar assim com ela. Talvez porque ela nunca se abriu pra ele com sinceridade. Tinha medo da reação que ele teria quando descobrisse as coisas que ela gosta de fazer. Mas via Deus da mesma forma.
Eu apenas concordei com a cabeça. A pizza havia chegado, fomos na mesa para comer e prometi ao Sr Joaquim e conversaria com Deus no dia seguinte quando chegasse em casa. Não sei se eu realmente conseguiria fazer aquilo, mas sei que aquela mesma sensação forte que me disse pra não ir à festa, não ficar no quarto, agora me motivava a cumprir essa promessa.
O grande desafio, no momento, era o dia seguinte.

domingo, 15 de abril de 2018

Remida - Parte 10


(Narração Lucas)
            - Não sei nem porque duvidei que você conseguiria. Você sempre ganha os desafios. – Disse Rafael, dando petelecos na foto que eu tinha acabado de entregar.
            - Você sabe como sou... – respondi – não perco uma.
Rafael era meu amigo fazia exatos dois anos. Nos conhecemos em uma boate, quando um grupo de meninas veteranas nos desafiou a roubar quatro garrafas de bebida do bar. Sendo dois moleques do primeiro ano, queríamos impressionar, mas fomos pegos e escoltados de maneira nada amigável até a saída. Amizade que começa no pior, segue até o melhor. Continuamos a nos desafiar só por diversão.
É claro que eu ganhava todos os desafios.
            - E agora? – Rafael apertada e relaxava os olhos, tentando ver melhor cada detalhe da foto. Roubei-a de sua mão com rapidez.
            - Agora eu vou jogar isso fora porque o desafio era só tirar a foto da menina, não espalhar por aí.
            - Ah para cara. – disse Rafael pegando a foto de volta. Ao mesmo tempo entraram alguns colegas da sala no banheiro. Rafael escondeu a frente da foto na blusa e diminuiu o volume da voz. – Você vai fazer o que agora?
            - Não sei. Acho que nunca mais vou falar com ela. É a maneira mais fácil né cara?
            - Não! Talvez você consiga mais algum material.
            - Achei que era só um desafio sobre tirar a foto de uma garota pelada, não fazer uma sessão de fotos. – Rafael andava estranho desde quando começou a andar com uns caras do terceiro ano do ano passado. Eles saíram da escola, não fizeram nada de interessante na vida. Só se encontram em uma praça aqui perto umas vezes na semana pra fumar alguma coisa. Rafael já me convidou pra ir algumas vezes, mas sempre achei esse negócio de droga uma burrice.
            - Foto de mulher pelada? Onde? – Gustavo já vinha se intrometendo na conversa, parece que respondi alto demais e ele falou mais alto ainda. Rafael nem se esforçou pra manter a foto escondida, foi logo mostrando.
            - UAU! Quem é essa joia rara? – Gustavo falou tão alto que chamou a atenção de todos os garotos do banheiro, que não demoraram muito pra se juntar atrás dos ombros dele pra ver a foto.
            - Ah essa menina tá no meu time. – Respondeu um garoto chamado Mateus. – É Marcela o nome dela. Que beleza...
Todos começaram a pegar a foto ao mesmo tempo. Alguns mandavam beijos, outros davam uns gritos, todos riam sem exceção. Tentei pegar a foto de volta, mas foi em vão.
            - Qual é, Lucas? Você já curtiu a garota, deixa as lembranças com a gente. – Respondeu alguém que eu nem sabia o nome.
            - Pessoal ela tá lá fora! – Alguém gritou.
Se ela entrasse e me visse com a foto, ia achar que eu estava me gabando pra aqueles otários. Soltei a foto e entrei em uma cabine. Não demorou muito pra eu ouvir mais gritos e gargalhadas, seguidos de vários assovios. Olhei pela fresta da porta e ela estava lá dentro segurando a foto. – Merda. Merda. Merda. Merda. – disse para mim mesmo. Ela saiu do banheiro, e mesmo assim as gargalhadas, assovios e frases de assédio não pararam.
Esperei o sinal bater para sair da cabine. Procurei a foto, mas ela tinha sumido. Já era certo que ia se espalhar pela escola, que ia dar um problema gigante pra garota e pra mim ainda mais.
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Tudo normal no correr das outras aulas. Já tinha tirado foto com o celular da foto que eu tinha impresso e mandado no grupo da escola. Já tinham até falado o nome dela, qual sala estuda e alguém mandou o telefone no grupo. Por sorte ninguém mencionou meu nome. Acho que ser o fotógrafo não é tão importante quanto ser “a fotografada”.
Por mais que eu também quisesse me esconder dela, não vi mais a Marcela na escola. Passei rápido na frente da sala dela antes do sinal da saída tocar, mas nem sinal dela. Eu tentei me convencer que ela ficaria bem. “Eu não tenho nenhum compromisso com ela”, “isso acontece o tempo todo, ela vai sobreviver”. E por mais que todos os pensamentos fossem verdade, eu não conseguia calar esse negócio que ardia no meu peito.
Culpa.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

TENTE VER POR OUTRO ÂNGULO...

Olá pessoas, Vic na área 🔁
Quem ai já viu esse filme, espero que muita gente rsrs... Em determinado momento do filme, Tadashi( o carinha de boné), diz a Hiro (o carinha de casado azul) ver as coisas de outro ângulo, fazendo com que Hiro consiga criar finalmente seu projeto. Tadashi não teve o fim que todos gostariam, mas sua lição permanece sempre.
Será que temos visto as coisas de outro ângulo ou temos sido tão pessimistas que nada parece ter solução? Muitos dirão que são pessimistas, mas isso pode mudar, basta ver as coisas de outro ângulo.
Não é fácil, porque tudo parece conspirar contra, mas tente, vale a pena, eu digito isso aqui porque aprendi isso de um jeito bem difícil e gostaria de alertar você enquanto ainda está em tempo de mudar, não espere uma tragédia ou algo do tipo acontecer para mudar, comece agora e quando o momento ruim chegar sua forma de ver por outro ângulo ajudará muito....
Ps: assistam esse filme, #OPERAÇÃO_BIG_HERO, é desenho sim, mas possui ensinamentos muito bons, indico a todos....

NÃO DEIXE O MEDO TE DOMINAR

Olá pessoas, Vic na área...🔁
Hoje eu vim falar sobre algo que pode ser bom e ruim na nossa vida, MEDO. Nossa mente já entra no processo de vasculhar nossos piores medos e jogar na nossa cara né? Pois eu venho te dizer(escrever) que ele não tem o direito de nos dominar, ele pode ser algo bom? SIM, mas tudo tem limite gente. Quantas vezes deixei de fazer algo e me arrependi muito, culpa do MEDO, hoje tento lutar contra ele e a cada etapa vencida sinto que ele se enfraquece.
Estou aqui pra dizer que você também pode vence-lo, tente um pouco cada dia e você se sentirá bem, leve e realizado, é tão bom quanto comer chocolate(especialmente talento/garoto amo <3)
Lute contra o medo, faça aquilo que sempre quis fazer e nunca fez, crie um canal no youtube, faça amizades novas, cante e dance, seja ao que for faça e seja muito feliz. Se o que te impede for alguém pode ser que seja um pouco difícil ,mas tente conversar ou ignorar, garanto que no fim tudo se acerta.
Hoje te desafio, lute contra seu medo, faça o que te deixa feliz e lembra que Deus one estiver te da forças pra lutar ok.... 

sábado, 28 de janeiro de 2017

QUAL TEM SIDO SEU FOCO?


Olá pessoas, tudo bom???? Vic na área🔃

Hoje eu me lembrei de algo que não sai da minha cabeça há alguns dias e resolvo compartilhar aqui.
Acredito que todos temos um destino nessa vida, pode ser uma vaga na faculdade, pode ser aprender a dirigir ou aprender a falar outro idioma, não sei qual é seu objetivo agora, mas sei que tudo aquilo que é forçado não nos traz nenhuma satisfação, não adianta nada lutar por algo que não te trará alegria.
No mundo onde vivemos muitos querem comandar o destino de nossas vidas, mas que fique claro, o único que pode fazer isso é Deus, Ele sabe o que é melhor para nós, mas tomar a decisão é sua responsabilidade, correr atrás dos seus sonhos é sua responsabilidade, mas nunca faça aquilo que te obriguem a fazer, seja honesto consigo mesmo. Eu sei que, ás vezes, pensamos que fazendo aquilo que esperam de nós parece o certo a se fazer, mas em algum momento o melhor será ouvir seu coração e a voz do nosso Deus, assim você saberá o que realmente te fará feliz.
Reflita nessa frase.......
Não seja aquilo que não te fará feliz, siga seu própio caminho e seja feliz.....


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Remida - Capítulo 9

Já passaram por uma situação quando seu corpo fica fora do seu controle? Sua mente funciona à mil por hora, mas o corpo não responde. Quando vi aquela foto impressa naquele papel foi assim. Eu pensava um milhão de coisas, mas eu simplesmente fiquei parada, rodeada de rapazes rindo e me provocando. Quando consegui fazer algo, apenas amassei o papel, coloquei no bolso da calça e saí correndo.
Logo que saí do banheiro masculino, Lucas e uns amigos estavam no bebedouro. Eles conversavam sobre o jogo e brincavam entre si. Quando me viu, Lucas encarou por alguns segundos e tudo o que eu queria era poder xingar ele ou machucar ele! Com certeza ele tirou aquela foto, e depois imprimiu pra me humilhar ou e gabar para os amigos.
Encarei-o por alguns segundos e depois saí correndo novamente. Queria estar em qualquer lugar, menos perto dele.
Entrei em uma antiga sala de leitura da escola que sempre estava com a porta aberta. Alguns alunos aproveitavam pra matar aula, fumar ou fazer qualquer coisa ali dentro. Mas, por causa dos jogos, todos estavam bem entretidos com a competição. Eu fechei a porta, coloquei uma cadeira atrás dela e depois sentei. “Como eu saí de desconhecida com uma paixão platônica pelo cara mais popular da escola para garota com foto nua no banheiro masculino?” Eu pensava. Mas não tinha resposta. Não conseguia pensar direito ou acreditar que eu estivesse nessa situação.
De repente, meu celular vibrou. Uma mensagem de texto da Dani.
“Miga te vi correndo, te chamei e tu não ouviu. Onde tu tá?”
Eu precisava da Dani agora.
“Vem pra sala abandonada, tem uma coisa acontecendo.”
“Engravidou. Eu sabia! Bem vi que tava meio gordinha mesmo” Ela não perdia uma.
“É pior”
-
Talvez vocês conheçam muitos xingamentos, mas tenho certeza que se assustaria com a reação da Dani quando viu o papel. Ela atribuiu xingamentos ao Lucas que talvez nem existam de verdade!
            - E você não viu ele tirando a foto, Marcela?
            - Não, Dani! – Eu tentava me explicar em vão – Deve ter sido depois que tudo acabou. Ele colocou a roupa antes de mim e depois pediu que eu colocasse. Eu nem imaginei que ele fosse tirar uma foto! Se soubesse não teria deixado ele fazer isso, né?
Daniele andava de um lado para o outro tentando administrar a raiva que sentia.
            - Eu vou matar esse moleque!
Eu não sabia o que responder.
Antes que a Dani continuasse com sua demonstração de raiva contida, meu celular começou a vibrar muito. Mensagem após mensagem começaram a surgir na tela do meu celular. “Quanto você cobra por uma rapidinha?”, “Deliciosa, ein”, “Lucas se deu bem, quero saber se eu posso?” E mais mensagens chegavam e então não me contive. As lágrimas que, antes eram contidas finalmente tiveram a liberdade pra sair. Minha melhor amiga que, há poucos segundos era pura raiva, se tornou conforto. Chorei por vários minutos com a cabeça deitada no colo dela, enquanto ela repetia que tudo ia ficar bem. Ela pegou meu celular, desligou e guardou na própria bolsa.
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Os jogos terminaram, as pessoas começaram a ir embora e então Dani achou melhor que saíssemos também. Ter ficado escondida todo o tempo não ia ter adiantado nada porque, mesmo que todos já estivessem fora da escola, ficavam muito tempo na rua conversando. Me viria, me provocariam e talvez fosse pior porque seria na frente de todos. Os que não sabiam da minha vergonha viriam a saber.
            - Não posso sair, Dani. Vão me zoar lá fora. Sei que tá todo mundo lá fora.
            - Então se cobre. Coloca meu casaco, cobre a cabeça e a gente sai rapidinho.
Dito e feito. Concordei, coloquei o moletom rosa da Dani que coube como uma luva em mim. Enrolei todo o cabelo para trás, peguei a mochila e saí. Nenhum sinal de provocação, ótimo. Estávamos andando rapidamente pela calçada e eu até confiava que ia conseguir sair dessa sem ninguém me notar. Foi quando eu senti alguém dando um forte tapa na minha bunda.
Quando me virei, era Rafael, o amigo babaca do Lucas.
            - Quando ele me contou tudo o que aconteceu, Marcela... Ah, agora precisa ser minha vez. – Disse ele alto o suficiente pra todos se virarem para nós.
“Isso não pode estar acontecendo.” Pensei.
Dani entrou na minha frente, deu um tapa na cara do Rafael e gritou:
            - Deixa ela em paz, ou vou te fazer se arrepender de ter nascido homem! E aliás, ainda tenho minhas dúvidas depois da festa de ontem. – Me pegou pela mão e saímos andando.
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Fomos para a casa da Dani. Eu queria muito poder ver meu celular, mas ela não deixou. Repetia que não me faria bem, que precisava confiar nela e que era melhor assim. Seus pais não estavam em casa. O pai estava trabalhando, e a mãe viajou para a casa de uma irmã que acabara de ter um bebê. Dani era uma amiga maravilhosa. Já perceberam que ela era irresponsável, que bebia nas festas e me dava muito trabalho. Eu sempre fui como “a mãe” pra ela. Mas nessa hora ela me surpreendeu. Ela não me julgou, teve paciência comigo e provou sua lealdade me defendendo do Rafael. Ela não se importou em envolver o nome dela no meu problema, e se ela não estivesse do meu lado, acho que eu não suportaria.
            - Vamos ver um filme, de preferência de terror. – Ela passou a noite procurando uma forma de me distrair.
            - Não tô a fim, Dani. – Respondi. Ela sentou do meu lado no sofá.
            - Vamos! Você precisa ficar bem. Esse tipo de coisa acontece o tempo inteiro com várias meninas por aí. Daqui a pouco todo mundo vai esquecer e vai ficar tudo bem.
            - Não sei se eu vou conseguir esquecer, Dani. – Aí ela se tocou do que se tratava.
            - Você não tá assim só pela foto, né? – Ela pegou a coberta e deitou do meu lado. Por incrível que pareça, cabíamos as duas perfeitamente no sofá dela.
            - Eu passei anos sonhando com ele. Anos fantasiando que ele, um dia, olharia diferente pra mim. Que ele enxergasse quem eu sou de verdade, sabe? Uma pessoa que tinha vontade de fazer ele feliz, de estar do lado dele em toda situação. Mas ele só me usou, Dani. Ele queria uma coisa, e viu em mim uma maneira rápida de conseguir. – ela me ouvia atentamente – O pior é que ele estava certo. Eu cedi tão facilmente, me iludi com tanta rapidez, como eu fui burra. – E de novo as lágrimas rolaram. Daniele me consolava, tentava me acalmar mas nada conseguia.
Logo começamos a ouvir o barulho de chave no corredor, e o pai dela abriu a porta. Se surpreendeu ao vez nós duas lá porque, geralmente, ficávamos na minha casa.
            - Ei, boa noite meninas!
            - Boa noite, pai – Dani levantou para que eu pudesse tentar disfarçar minhas lágrimas.
            - Minha mãe ligou – disse indo em direção ao pai – e ela falou que minha tia tá se recuperando bem.
            - Ah, graças à Deus! – disse Sr Joaquim.
Quando ouvi ele dizendo essas simples palavras, algo tomou conta de mim. Quando ouvi “Deus” foi como se minha culpa se multiplicasse. Se eu tivesse ouvido tudo o que me foi ensinado na igreja sobre sexo, não estaria na situação que estou agora. Mesmo distante de Deus, a opinião Dele sobre mim é importante. Eu estava confortável onde estava antes, quando não era a melhor cristã do mundo, mas não pecava assim nessa frequência. Era quieta, e agora Ele deveria estar me odiando muito.
            - Marcela? – Sr Joaquim interrompeu meus pensamentos
            - Ah... – limpei a garganta e me sentei – Oi.
            - O que quer jantar? Daniele disse que você vai dormir aqui hoje e você sabe que ela é uma negação na cozinha – Disse rindo, pareceu que não notou minha desolação.
            - Olha, por mim qualquer coisa está bom – Tentei estampar um sorriso e parecer simpática, mas ele me conhecia tão bem quanto a filha. Dani estava no telefone ligando para a pizzaria, então não poderia me socorrer.
            - Aconteceu alguma coisa, Marcela? – Ele realmente se preocupava. Era um homem ótimo, um pai ótimo, imaginava que fosse um marido maravilhoso sendo que nunca o vi brigando com a esposa, sequer levantando a voz. Dani era toda errada por causa da influência das pessoas da escola. Por isso era tão importante que a identidade de garota-problema dela fosse mantida em segredo do pai. Ele era muito bom, talvez não suportasse a decepção.
            - Está tudo bem, Sr Joaquim – tentei forçar o sorriso de novo. Entendia como era difícil pra Dani ser ela mesma em casa. A serenidade e a alegria do pai constrangia as coisas ruins que ela fazia nas festas.
            - Eu não acredito em você. Mas se você não quiser me falar, tudo bem. Saiba que pode confiar em mim, mesmo eu sendo o velho e careta pai da sua amiga. – Eu não gostava de mentir pra alguém que parecia ser tão íntimo de Deus.
            - Acho eu o senhor não me deixaria voltar na sua casa se eu te contasse tudo. – Disse de cabeça baixa. – Sr Joaquim me olhou com compaixão.
            - Você conhece a bíblia, Marcela?
            - Um pouco. Quase nada. Era muito nova quando parei de ir à igreja.
            - Tem uma passagem em Mateus, no capítulo 7 que diz assim “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Não posso condenar você, porque eu posso ter feito igual um dia, ou pior. Se eu não quero que você me julgue por causa dos meus erros, não vou julgar você por causa dos seus. Pode confiar em mim.
Uma parte de mim queria, desesperadamente, poder contar tudo pro Sr Joaquim. Queria poder perguntar pra ele o que eu posso fazer pra sair dessa, queria poder chorar pra ele. Eu não podia contar para a minha mãe; nossa relação que já era ruim, poderia ficar pior. Daniele me ajudava em tudo que podia, mas era tão perdida quanto eu.
Mas contra todos os instintos do meu corpo de me reservar, eu respirei fundo e contei tudo à ele, e ele me ouvia com toda atenção entre minhas palavras, soluços e lágrimas.